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Sobre os blocos rivais emergentes no Oriente Médio.

Se a violência gera violência, a aliança produz uma contra-aliança. Os acordos UAE-Bahrain-Israel, chamados de Acordos de Abraão, marcam o início de uma aliança profana que visa trazer uma mudança decisiva no tabuleiro de xadrez geopolítico do Oriente Médio, permitindo que os Emirados Árabes Unidos se projetem cada vez mais como o novo ‘líder do ringue’ do Golfo e fazer de Israel o novo senhor da segurança, substituindo os EUA. Considerando que o movimento dos Emirados Árabes Unidos vem contra o pano de fundo de sua própria busca por domínio regional na esteira do declínio da influência saudita, não há como negar que o verdadeiro locus da rivalidade regional no Oriente Médio está nas próprias ambições do Irã e da Turquia, colocando ambos os lados-Estados árabes contra seus poderosos aliados árabes e seu inimigo comum, Israel.

Uma vez que os Acordos de Abraão visam reduzir significativamente a influência crescente do Irã (no Iraque, Síria, Líbano, Iêmen) e da Turquia (na Síria, Iraque, Líbia, Mediterrâneo), uma potencial contra-aliança envolvendo o Irã, a Turquia e até mesmo o Catar se torna uma ramificação lógica. Essa contra-aliança não será apenas a nova campeã da causa palestina, mas também configurará suas relações de maneira que lhes permita resistir à posição mais forte de Israel na região, bem como à hegemonia árabe-gul.

Do jeito que está, os palestinos já estão encorajando ativamente essa aliança. Em uma entrevista recente ao Tehran Times, Khaled Al-Qaddoumi, o representante do Hamas em Teerã, disse que os três países, já se beneficiando de acordos comerciais, precisam estabelecer uma visão política comum para enfrentar o inimigo comum. Se os Acordos de Abraão trouxeram novas forças e mudaram o cenário regional, não há como negar que a Turquia e o Irã, que já disputam o poder vis-à-vis os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita, verão mérito em formar alianças para impedir os Emirados Árabes Unidos-alinhado com Israel de ganhar impulso estratégico de mudança de jogo nos próximos anos.

Já existe matéria-prima para tal aliança. A Turquia e o Irã têm laços econômicos profundos. Considerando que Teerã já abastece a Turquia com energia – petróleo e gás -, líderes dos países se reuniram recentemente em um evento virtual do Conselho de Cooperação de Alto Nível e prometeram aumentar seu comércio bilateral, elevando-o a um ambicioso volume de US$ 30 bilhões. A declaração conjunta emitida no final do evento delineou as áreas de cooperação, incluindo Síria, Curdos e os Acordos de Abraão.

A declaração não apenas chamou os Acordos de um esforço para “minar a questão palestina”, mas também pediu uma solução de dois Estados para o conflito de décadas.

Seus interesses mútuos tendem a convergir quando se trata de enfrentar os curdos. A declaração conjunta enfatizou plenamente que “PKK/PJAK e todas as organizações terroristas na região representam uma ameaça comum contra a segurança da Turquia e do Irã” e “que é responsabilidade de ambos os países utilizarem plenamente os mecanismos de cooperação existentes contra as atividades de Elementos do PKK/PJAK e outras organizações terroristas ao longo das fronteiras comuns.”

A declaração conjunta recebeu o endosso de Erdogan em uma declaração separada, quando ele disse que “o diálogo entre a Turquia e o Irã tem um papel decisivo na solução de muitos problemas regionais”.

Para Rouhani, que claramente parecia ver a Turquia e o Irã como os dois alvos da aliança árabe com Israel, “a Turquia e o Irã são as duas grandes potências da região. Houve hostilidade e vingança em relação a ambos os países. Também existe hoje. Não há maneira de ser bem-sucedido contra essas conspirações a não ser pelo reforço de relações amigáveis ​​entre os dois países”.

Embora não haja dúvida de que o Irã e a Turquia competiram entre si durante séculos, ambos encontraram, nos últimos anos, uma série de razões para compartimentar sua rivalidade e tirar o máximo proveito da convergência tática em uma série de questões que as novas realidades regionais oferecem.

Isso é especialmente verdade quando se trata de desafiar a hegemonia dos Estados Árabes do Golfo. Eles puderam se unir quando os estados árabes, liderados pela Arabia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, decidiram impor um bloqueio ao Catar em 2017. Tanto o Irã quanto a Turquia tomaram medidas significativas para neutralizar o impacto desse bloqueio; daí a grande possibilidade de inclusão do Catar na contra-aliança Turquia-Irã. O Catar, embora seja um estado do Golfo-Árabe, tem suas próprias razões para forjar uma aliança. O que aumenta as razões é sua própria posição sobre os Acordos de Abraão.

“Não achamos que a normalização foi o cerne deste conflito e, portanto, não pode ser a resposta”, disse Lolwah al-Khater, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, na segunda-feira em entrevista à Bloomberg.

Embora possa ser muito cedo para prever como essa contra-aliança realmente será e se ela se tornará oficial ou não, não há como negar que existem fortes razões para essa aliança e todos esses países já estão deixando rastros a serem colhidos por seus rivais.

Como tal, enquanto o Irã já está envolvido em uma longa luta pelo poder vis-à-vis com os Estados Árabes do Golfo e Israel, a Turquia também está indignada, pois já está envolvida em uma guerra por procuração com os Emirados Árabes Unidos na Líbia e na Síria. Autoridades turcas acusaram os Emirados Árabes Unidos de apoio financeiro e logístico ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão, no nordeste da Síria. Ancara e Abu Dhabi também entraram em confronto pelo Catar.

Em outras palavras, embora, assim como as relações Irã-Israel, não haja amor perdido entre a Turquia e os Emirados Árabes Unidos e a Turquia e Israel, existem muitas razões para o Irã, a Turquia e o Catar capitalizarem no novo ímpeto de contra-alianças geradas pelas poderosas forças geopolíticas que os acordos de Abraão lançaram no Oriente Médio. Na verdade, os três países parecem estar se movendo na mesma direção.


Autor: Salman Rafi Sheikh

Traduzido para publicação em dinamicaglobal.wordpress.com

Fonte: New Eastern Outlook

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